quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ex-morador de rua busca apoio para jornal comunitário Publicação seria forma de aprendizado e fonte de renda para população em situação de rua


Lívia Corbellari
18/04/2013 18:01 - Atualizado em 23/04/2013 12:07


Um jornal independente feito pela população de rua, no qual além de serem jornalistas seriam também os jornaleiros, criando um espaço de debate e de expressão de ideias e também uma fonte de renda. 
 
Essa é a ideia de José Fernandes. Mais conhecido como Zeca, ele veio de São Paulo, onde viveu por oito anos em situação de rua, por causa de problemas familiares. Durante essa época, participou intensamente da Revista Ocas, uma publicação com o perfil parecido com o descrito a cima. 
 
 
Zeca está há apenas cinco meses no Espírito Santo, onde veio morar com sua companheira. Ele trabalha como educador social em um abrigo e sua primeira iniciativa é criar um jornal comunitário, produzido e vendido pelos próprios moradores de rua. O embrião é o Tá Na Rua, boletim informativo da gestão capixaba do Movimento Nacional da População de Rua, entidade que luta pela cidadania dos moradores de rua. 
 
Quando ainda estava nas ruas de São Paulo, ele se envolveu em diversos projetos sociais como a Ocas, a ong Rede Rua e alguns festivais culturais nos quais pode acumular conhecimento e muitas experiências. “A vida não me permitiu fazer uma faculdade, mas eu sempre gostei de ler e fiz a minha formação como autodidata mesmo”, conta.
 
“A Ocas me proporcionou uma renda que me impediu de ir para outros caminhos, que geralmente quem está na rua acaba seguindo”. Ele explica que a ideia do projeto é capacitar as pessoas em situação de rua e fazer uma publicação com pautas interessantes que tratam de questão que a grande mídia não aborda. Para ele, o jornal deve ser comprado pelo seu conteúdo e não por caridade.
 
Zeca conta que a Ocas é orientada por duas jornalistas, uma da Folha de São Paulo e outra do jornal Valor Econômico. “A revista era uma forma de termos mais autonomia financeira, mas também melhorava a nossa autoestima e passávamos a nos reconhecer como cidadãos. Tenho uma vontade imensa de fazer algo parecido por aqui”, declara.
 
Na Ocas, a maior parte do conteúdo jornalístico é feito por voluntários, jornalistas aposentados e pessoas da área. Entretanto, a editoria chamada Cabeças Sem Teto, é de responsabilidade dos moradores de rua, que a partir das oficinas de textos, produziam pautas e matérias para a sessão. 
 
O primeiro jornal desse gênero surgiu na Inglaterra e era chamado The Big Issue, ele foi fundamental para a criação do International Network of Street Papers (INSP), uma instituição de comunicação comunitária responsável pela publicação de jornais desse gênero pelo mundo todo.
 
Revista Ocas, de São Paulo e do Rio, o jornal Boca de Rua, de Porto Alegre, e o Aurora da Rua, da Bahia, são exemplos de alguns projetos filiados ao INSP. O objetivo é o mesmo: dar voz a quem não tem e utilizar a comunicação como um meio de instigar o debate sobre direitos, formas de organização e alternativas de renda para as populações de rua. 
 
Para o jornal Tá Na Rua virar realidade em Vitória, Zeca diz que ainda falta engajamento dos próprios moradores de rua e o apoio de colaboradores da área de jornalismo interessados em ministrar as oficinas. “O Poder público é muito lento e precisamos de iniciativas da sociedade civil”, pede Zeca. 
 
Entretanto, algumas coisas já estão sendo feitas. Foi implantando dentro do Centro Pop Rua, no Tancredão, no Centro de Vitória, uma sala de aula para que as pessoas em situação de rua retomem os estudos. Para o educador social, iniciativas como essa são importantes porque devolvem a dignidade do cidadão que está em situação de rua. 
 
“Se a pessoa se encontra na rua, ela tem um porque e esse porque pode ser milhões de coisas, mas ele é pouco questionado pela sociedade em geral e pelo governo”, desabafa Zeca. Infelizmente, a maioria das politicas públicas trata todo morador de rua como usuário de drogas ou criminoso. “A população de rua é um grupo heterogêneo e deveria ser tratado dessa maneira”, completa.

Um comentário:

  1. Boa tarde.
    Que lindo trabalho promovido por este grupo, por pessoas que acreditam no próximo, que acreditam no ser humano, independente da sua vaidade, da sua cor, da sua raça. A solidariedade é uma forma única de ajudar as pessoas.

    " Não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito da dignidade individual. Pierre Nouy."

    E é assim que eu os defino!! #Vivaasolidariedade#

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